quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A liberdade de expressão, proposta pela moda gender-bender, ou moda unissex, um conceito que se firma junto ao cenário global da moda!

Dinalva Heloiza


                                                           Moda gender-bender

A cotidiana evolução do ser humano, nos lembra as muitas trocas que historicamente tem proliferado na área do gênero, e obviamente na vida, mas muito especialmente  o setor da moda, vem contribuindo com um manifesto global, onde, durante o ano de 2015, as maiores grifes do mundo demonstraram em suas coleções que já formaram uma opinião no contexto dos gêneros, e de forma bem clara.

É a moda sem gênero, o gender-bender, genderless, ou moda unissex. Este é um conceito, onde a moda brinca com os limites de gênero, e o mais interessante é que isso ocorre há muito tempo, mas tudo indica que agora o conceito está se firmando nos altos pilares da moda, em cenário internacional e com grandes autores em cenário nacional.

Em 1920, por exemplo, a estilista Coco Chanel investiu um estilo em sua produção, que até então, era exclusivamente para homens. Ainda em 1940, a atriz Marlene Dietrich explorava o guarda-roupa masculino, usando calças compridas, terno e gravatas.

                                                                        Coco Chanel

                                                                   Marlene Dietrich

Já os anos 70, influenciaram e de forma gradativa o cenário dessa história. Foi quando a forma de vestir, se tornou parte do manifesto contra o sistema, era o início de uma revolução cultural. Nessa década vimos o personagem andrógino de David Bowie, Ziggy Stardust, foi também nos anos 70 que os homens voltaram a usar cores fortes, saíram dos armários as peças amarelas, lilases, vermelhas, algo incomum desde os anos 20.

As peças começaram a ter um contexto unissex, ou seja, eram produzidas para serem usadas pelos dois sexos, um exemplo disso, a famosa calça boca de sino.  Hoje, é cada vez mais comum, encontrarmos homens na seção feminina, buscando uma perfeita Skinny, ou peças mais ajustadas.
Em 2015, essa tendência esteve presente nos principais desfiles, sobretudo nas passarelas direcionadas para um público mais elitizado, com constantes referências internacionais.

No início deste ano durante a temporada masculina internacional, o primeiro desfile da Gucci assinado por Alessandro Michele, chamou atenção não apenas pela mudança em relação ao trabalho anterior feito por Frida Giannini na grife, mas principalmente pela proposta de vestir homens e mulheres com o mesmo tipo de roupa.

                                                Moda Unissex - O estilo gender-bender

Ainda na temporada masculina internacional de Inverno 2016, outra apresentação que chocou o universo fashion, foi a abordagem de Rick Owens sobre a questão, bem mais polêmica, diga-se. Rick Owens, apresentou peças que desmistificaram todos os valores tradicionais da virilidade e do vestuário masculino ao apresentá-los na passarela com túnicas que deixavam os pênis à mostra. O que foi traduzido por Laia Garcia, do Yahoo Style, como, “uma tentativa sutil de quebrar as barreiras finais das formas aceitáveis de se cobrir e mostrar o corpo masculino”.



Em um recente artigo para a FFW – Fashion For Ward, Mariana Pontual escreveu:

Esse movimento, que vem sendo chamado de gender-bender (além-gênero, em tradução livre) e foi colocado sob os holofotes atuais especialmente por Michele e Owens, tem a ver com a ruptura dos estereótipos sobre as formas tradicionais de gênero. “Saias para homens, ternos para mulheres e as linhas que definiam o masculino/feminino vão se apagando. Mas a discussão atual é bem maior e vai além”, observa a analista cultural Carolina Althaller. Ela explica que essa, digamos nova fase da discussão sobre a neutralização dos gêneros na moda eclodiu há cerca de cinco anos, quando o modelo Andrej Pejic (hoje Andreja) começou a desfilar para coleções femininas de ready-to-wear e Alta-Costura de Jean Paul Gaultier, uma das primeiras marcas a apostar na sua imagem.


Andrej podia ser tanto um menino quanto uma menina. Depois disso, Andreja chegou a subir em passarelas nacionais para a Ausländer e abriu as portas para outros modelos transgêneros como a brasileira Lea T – que, vale ressaltar, também contou com o valioso empurrãozinho de seu amigo Riccardo Tisci, diretor criativo da Givenchy, para deslanchar sua carreira.

O varejo tem um timing diferente e geralmente necessita de um tempo maior que as passarelas para incorporar mudanças de comportamento. Mas dois exemplos recentes de importantes lojas internacionais mostram que o gender-bender tem, sim, potencial para transformar a forma como consumimos moda no futuro. O primeiro deles foi o catálogo de Verão 2014 da Barneys, que trazia 17 modelos transgêneros e contava a história pessoal de cada um no site. Já a inglesa Selfridges realizou no mês de março o inédito Agender, projeto que propõe uma nova experiência de compras sem a divisão das peças em seções masculinas e femininas.

Mas, se a moda sempre ultrapassou as fronteiras entre feminino/masculino (especialmente com a ajuda do mundo das artes, da música e das celebridades), por que o movimento tem ganhado força agora? Para o consultor criativo e de tendências Jackson Araujo, isso passa pelo fenômeno chamado de transculturalismo, que salienta a fluidez entre as fronteiras culturais e no qual não cabem mais definições pré-estabelecidas sobre papéis masculinos e/ou femininos. “A cultura de consumo contemporânea, por exemplo, tem colocado em choque as relações tradicionais de gênero e classe social”, explica ele. “Com isso, o mapa de mobilidade social está sendo redesenhado em escala global, garantindo novos valores para os espaços públicos, imagem corporal e classe social, desafiando categorias identitárias anteriormente existentes. Basta pensar na nova classe média, no acesso ao consumo de grifes. Ou nas festas de rua, que ocupam o espaço público, colocando os cidadãos como protagonistas das novas cidades. Ou ainda, nos avanços sobre a constituição de novos modelos de família.” A tudo isso se soma ainda o poder engajador das redes sociais, que empodera, une e dá força a essa dinâmica global.

Se internacionalmente marcas como JW Anderson, JNBY, American Apparel, Rad Hourani, Yohji Yamamoto, Nicopanda e Gareth Pugh se destacam no segmento gender-bender, a moda brasileira também tem alguns exemplos relevantes, como lembra Araujo. Alexandre Herchcovitch, com seus homens de saia e mulheres de atitude forte nas passarelas, Dudu Bertholini e Walério Araujo, graças, inclusive, às suas imagens e posturas pessoais, além de Fernando Cozendey. “Cozendey já fez casting com modelo gorda, transexual, gay dando pinta, andrógino com genitália protuberante, mulher com perna mecânica… Uma cartografia pulsante dos excêntricos, aqueles que são colocados à margem do centro das discussões que a moda poderia proporcionar”, diz Jackson, completando: “Por isso, este momento é relevante para a moda, que pode se tornar mídia fundamental na inclusão de novos estilos de vida”.


Mas será o gender-bender uma tendência passageira? Carolina acredita que não. “Creio que o Agender, da Selfridges, vai abrir um grande espaço e trazer essa discussão para o mercado massivo. Ainda vai levar um tempo para outras lojas adotarem esse conceito, mas é preciso ficar atento aos desejos do consumidor, que cada vez mais busca representatividade nas marcas”, observa a analista.


Independentemente de a tendência pegar ou não, o que realmente vale destacar no movimento de neutralização dos gêneros é que, ao sair da esfera das artes e das passarelas para ganhar o varejo, ele se aproxima das pessoas e faz crescer a noção de que todas as classificações sociais existentes – idade, gênero, nacionalidade – foram construídas e já não dão mais conta da realidade. Logo, se as narrativas já existentes não traduzem mais o mundo em que vivemos, então é preciso criar novas. E é muito positivo que a moda sirva como tela em branco para, não apenas ser um retrato do nosso tempo, mas também um agente de inclusão e promoção da diversidade.







Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem Vindo ao Blog Gyn Go Cities