Dinalva Heloiza
Diante da estimativa de que a produção de resíduos urbanos aumentará em dois terços até meados do século, com custos quase dobrando nesse período, um novo estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) destaca que somente uma redução significativa na geração de lixo poderá garantir um futuro sustentável e financeiramente viável para o planeta.
O documento, intitulado “Além
da era do desperdício: transformando o lixo em recurso”, faz parte da
edição 2024 do Panorama Global do Manejo de Resíduos (Global Waste
Management Outlook – GWMO 2024). Trata-se da análise mais abrangente sobre
a produção mundial de resíduos e os custos relacionados desde 2018. O relatório
utiliza avaliações de ciclo de vida para apresentar cenários sobre o impacto da
manutenção do atual modelo, da adoção parcial de soluções e de uma transição
completa para sistemas de economia circular e políticas de lixo zero.
As projeções apontam que a
geração de resíduos sólidos urbanos saltará de 2,3 bilhões de toneladas em 2023
para cerca de 3,8 bilhões de toneladas até 2050. Em 2020, o custo direto global
com gestão de resíduos foi estimado em US$ 252 bilhões. No entanto, ao incluir
os impactos indiretos — como poluição ambiental, prejuízos à saúde pública e
efeitos das mudanças climáticas decorrentes da má gestão dos resíduos — esse
valor sobe para US$ 361 bilhões. Caso nenhuma ação efetiva seja tomada, esses custos
podem alcançar US$ 640,3 bilhões anuais até 2050.
Inger Andersen,
Diretora-Executiva do PNUMA, reforça o alerta:
“A produção de resíduos está
fortemente ligada ao crescimento do PIB, e muitas economias emergentes estão
enfrentando desafios intensos com o aumento do lixo. Este relatório apresenta
soluções concretas para um futuro mais eficiente em recursos, destacando o
papel crucial de líderes dos setores público e privado na promoção de uma
transição para o lixo zero.”
Já Carlos Silva Filho, presidente
da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), parceira do relatório
desde sua origem, enfatizou o papel do GWMO como ferramenta de mobilização:
“Este estudo é mais do que um
diagnóstico — é um apelo à ação coletiva para reverter os efeitos negativos das
práticas atuais e gerar benefícios reais para todas as populações. Implementar
essas soluções é essencial para acelerar o cumprimento da Agenda 2030.”
A modelagem proposta no relatório
mostra que, com medidas eficazes de prevenção e gestão de resíduos, os custos
líquidos globais poderiam ser limitados a US$ 270,2 bilhões até 2050. Mais
otimista ainda, o cenário baseado em uma economia circular, onde o crescimento
econômico se desvincula da geração de resíduos por meio de práticas
sustentáveis, poderia resultar em um ganho líquido anual de US$ 108,5
bilhões.
Zoë Lenkiewicz, principal autora
do relatório, ressalta:
“As evidências são claras: é
urgente adotar uma abordagem de lixo zero. Melhorar o gerenciamento de resíduos
é essencial para mitigar a poluição, reduzir emissões de gases de efeito estufa
e proteger a saúde humana. As soluções já existem — falta liderança firme para
implementá-las de forma equitativa.”
O GWMO 2024 foi apresentado
durante a 6ª Sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(UNEA-6), realizada entre 26 de fevereiro e 1º de março na sede do PNUMA, em
Nairóbi, no Quênia.
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